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O que ficou da semana

Por Ricardo Aral

Não foi uma semana barulhenta.

E isso, por si só, já diz alguma coisa.

Vivemos tempos em que tudo precisa se anunciar, se explicar, se justificar. Uma semana sem alarde costuma ser confundida com falta de conteúdo. Mas talvez seja justamente o contrário. Talvez o que ficou não seja o que foi dito — e sim o que pôde ser pensado.

O que ficou foi a percepção de que o desejo não grita quando amadurece. Ele observa. Escolhe destino. Aprende a não se oferecer inteiro em qualquer cenário. Isso não é perda de intensidade. É ganho de precisão.

Ficou também a constatação de que autonomia incomoda mais do que confronto. A mulher que não se explica não desafia ninguém — ela apenas não se submete à narrativa alheia. E isso é suficiente para causar desconforto em quem confunde diálogo com controle.

Do lado masculino, ficou claro que nem todo desejo precisa ser confessado para ser legítimo. O silêncio, às vezes, é o espaço onde o desejo se preserva de virar espetáculo. Existe força em não transformar tudo em discurso.

Houve ainda o lembrete sensorial de que o corpo reconhece antes da razão. Um cheiro, uma atmosfera, um detalhe mínimo é capaz de deslocar alguém no tempo sem pedir autorização à lógica. O corpo não pede licença para lembrar.

Nas relações, ficou a ideia de que ir embora pode ser um gesto de maturidade — não de abandono. Saber sair no momento certo evita que o afeto apodreça em ressentimento. Permanecer não é virtude automática. Escolher também é sair.

E no mundo, ficou a imagem dos lugares onde o desejo descansa. Espaços que não provocam, não exigem, não prometem. Apenas acolhem. O descanso não enfraquece o desejo — devolve contorno.

No fim, o que ficou da semana foi isso:

a sensação de que pensar ainda é possível.

E necessário.

Não viemos chocar.

Não viemos ensinar moral.

Viemos pensar.